terça-feira, 26 de julho de 2011

Atraiçoando as horas

(Salvador Dali)

As palavras são ditas

Seus significados adquirem formas repentinas

Volúpias voluntariosas

Madrugada adentra

Enquanto o sono se dilui

Riso e pausas

Reminiscências e oscilações

Pausa.

Circunscritos por um significado particular

Permeados por conchas e casulos.

Ressalvas cínicas e blefes,sarcásticos.

Os relógios pararam

Os ponteiros derreteram

Minta-me as horas..

Já deve ser muito mais do que tarde

O sol nasce na minha janela

E o mesmo Sol aparece na sua varanda

Eu te deixo ir...

Resta-me apenas a companhia do silencio

E o sono matutino.


terça-feira, 5 de julho de 2011

Expressando



(Chema Madoz)
Inspiração na madrugada.


Um café expresso por favor.

Uma xícara média

Com apenas duas colheres de açúcar


Não muito doce

Nem muito amargo

Apenas forte.


Café expresso.


Café espremido

Filtrado, pressionado

Resultado espesso, escuro.


Expresso, rápido

Depressa.


Uma dose quente

Enquanto me expresso

Estravessa.


Uma xícara inteira

Para agüentar a pressa

Ravessa .


Uma chávena de café

Pequena,serena

No desfazer do açodamento

Ex-pressa.


O café expresso me expressa

Eu melhor expresso minhas impressões

Através de café expresso.

sábado, 2 de julho de 2011

Achado:muito procurado,há tempos perdido...


("Roda de bicicleta", Marcel Duchamp)


"A obra de arte, fundamentalmente, consiste numa interpretação objetivada duma impressão subjetiva. Difere, assim, da ciência, que é uma interpretação subjetiva de uma impressão objetiva, e da filosofia, que é, ou procura ser, uma interpretação objetivada de uma impressão objetiva.
A ciência procura as leis particulares das cousas - isto é, aquelas leis que regem os assuntos ou objetos que pertencem àquele tipo de cousas que se estão observando. A ciência é uma subjetivação, porque é uma conclusão que se tira de determinado número de fenômenos. A ciência é uma cousa real e, dentro dos seus limites, certa, por que é uma subjetivação de uma impressão objetiva, e é, assim, um equilíbrio."
Fernando Pessoa
Trecho de "A Obra de Arte: Critérios a que Obedece".




Por muitos anos procurei esse fragmento de texto, pois na época que o li pela primeira vez quase nada entendi.

Perdemos-nos então...

Reencontramo-nos, agora.

Mas não sei se poderei dizer que o compreendi por absoluto .

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Lettre au vieil amoureux



Sei que já faz muito tempo que não conversamos e tempo maior ainda que não nos vemos, mas depois de tanto hesitar resolvi falar o que sempre evitei dizer, pra ser honesta não sei ao certo por onde começar e vejo minha letra trêmula ao riscar o papel,mas vou tentar verbalizar o que sinto nessa aventurada carta.

Sempre soube que éramos feitos dos “mesmos defeitos”,de maneiras opostas porêm simétricas,nossos orgulhos e vaidade circunscritos por inspirações românticas ,mas agora nos perdemos;e a verdade é que sou sua ausência em mim todos os dias.

Ainda me lembro de como você dizia que meus olhos eram lindos e de como minhas mãos ficavam pequenas sobre as suas.Com aquele ar imponente dizia que dormiu sentindo meu perfume,e eu fingia não me importar.

Existem segredos, palavras mágicas com significados exclusivamente nossos e toda vez que toca aquela música, me lembro de você e do parque de diversão que nunca fomos.

Às vezes parece que nossa historia foi um filme que nunca entendi o final, e insisto em relembrar minhas cenas favoritas.

Sinto-me boba e desorientada, com essa carta ridícula.

Talvez seja nostalgia, talvez seja o inverno ou quem sabe saudades.

Já estive muito magoada mas mesmo assim nunca esqueci do seu aniversário e do dia em que nos conhecemos,mesmo quando estávamos brigados.

Você também já esteve magoado,decepcionado e frustrado.

Gostávamos de nos machucar.

Somente agora sou capaz de perceber e encontrar meus erros e deslizes, minhas falhas e lacunas, onde naquela época talvez por falta de vida eu me fazia cega,e por hábito talvez sempre o culpava.Não quero mais competir com você pela posse da razão.

Queria poder falar com você, aquele de antes, que era doce e sem mágoas,aquele pra quem eu ligava de madrugada e me atendia com a voz entorpecida de sono e mesmo assim me prometia um buque de rosas brancas. Mas sei que este você não está mais ai.

Eu como antes também não estou aqui. Mudamos e nos perdemos.

Ficamos presos no passado e em minhas ternas recordações.

Os anos passaram...

A alternativa mais razoável,ao que me parece,é desistir.

Perdoe-me pelas promessas nunca cumpridas.



Envelopei mas não enviei.