sábado, 4 de dezembro de 2010

Relevância do meio


Todas as coisas estão fadadas a um destino comum: inicio, meio e fim. Por mais fatídico que essa sina possa parecer é uma garantia
Por vezes o começo se dá de forma despercebida, normalmente passamos a notá-lo lá pela metade, não ingressamos nele conscientemente, ponderando talvez que ele que se introduza em nós e não o contrário. Em outros casos,o começo é planejado,minuciosamente arquitetado,nessa situação nota-se a presença alucinógena do controle sobre a vida.
Nem sempre o final anula a potencialidade do começo, muitas vezes servindo como arremate, a cereja no topo do bolo, o tão esperado Granfinale. Muitas vezes almejamos desesperados o fenecimento de um ciclo,de um sentimento de uma etapa.
Contudo o mais intrigante é o meio. Onde está o meio?
Como saber se vivemos a meia-fase dos fatos, a meia vida?
Parece que ao delinearmos o inicio idealizamos o desfeche final, esquecemos das relevâncias do meio. Tão poderosa ponte que estabelece a ligação entre as extremidades dos acontecimentos, que se rompida com a forma desejada não perpetua o caminho esperado. Causando o fenômeno da confusão, dúvidas a cerca de onde estávamos e pra onde vamos. Desvarios e desorientação.
Pensando nisso, principiarei a sentir mais a importância do meio...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Soneto da Concretude




Perco-me em meio a tanta concretude
Sonhos não podem ser concretizados
Minha alma está mais rude
Circulam em minhas veias anseios desorientados

De braços cruzados,não tomo nenhuma atitude
No rosto um sorriso adornado
Olhos descompassados
Será essa a tal virtude?

Se existo no real,no concreto
Já que é vasta a concretitude
Como posso sentir-me tão incompleto?

Asfaltos e paredes fazem-me calar
Permanecerei nesta quietude
Pois a estatua de concreto não quer despertar.





segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Língua,E deixa que digam, que pensem, que falem.


"Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala!



O que pode esta língua?"

[...]


Caetano Veloso

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Abrindo gavetas



O Sol estava se pondo, a sina de mais um dia sem gosto, os sapatos apertados a comprimia por inteira, mente e corpo formavam um único cansaço. Acabara de chegar em sua casa,estava visivelmente exausta,porém não se contentaria apenas em deitar-se e dormir,precisava de algo,algum sentido para aquele fim de dia mecânico.Olhou ao seu redor,percebeu que há tempos não olhava para seu apartamento e o enxergava de fato.Tudo lhe alvitrava alheio,parecia não lembra-se de ter escolhi aqueles moveis nem suas especificas disposições,as cores não eram de seu agrado e não conseguia sentir seu cheiro nas coisas.Sentiu que precisava mudar,destruir tudo que ali estava para que tudo voltasse a ter um existência significativa.
Tirando os sapatos que a incomodavam, olhou para as cortinas resolveu começar por lá, rasga-las e deixar o fim do crepúsculo adentrar a sala de estar.As paredes brancas passaram a possuir um leve tom de rosa meio alaranjado.Sentiu essa nuance penetrando-a através de seus pés descalços.
Caminhou até seu quarto, mirou-se no espelho,ele ampliava a totalidade do cômodo não desejava mais tal distorção,queria conhecer a realidade de seu espaço.Viu sua cama ainda desarrumada devido a pressa da manhã,os lençóis estavam gelados,cansara deles também resolveu tira-los e joga-los na roupa suja.
Olhou para seu porta-jóias, ali conforme diz o nome estavam arquivadas suas preciosidades, não peças caras e luxuosas,mas recordações.Fitou-o por um instante e veio a indagação”Devo abrir?”,não se lembrava exatamente o que ali se escondia.
Fechou os olhos longamente, apertando-os, contou até três em voz baixa e abriu o pequeno baú,lá estavam suas memórias esquecidas.
Cartas cuidadosamente dobradas, pétalas de rosas secas, um anel que ganhara de sua vó,ingressos para um peça de teatro que não estava em cartaz e um papel de sonho de valsa.Sua retinas processavam o reconhecimento dos objetos,todos ali remetiam-lhe muita saudades.Fez-se mar,em forma de lagrimas,eram escassas gotas salgadas entretanto repletas de sentido.A revolução estava cancelada por hora.
A única coisa que lhe restava era tomar um banho para despedir-se da poeira que cobria as palmas de suas mãos...

sábado, 23 de outubro de 2010

O Cavaleiro da Triste Figura



Dias começam e terminam,as horas passam e se repetem,as cenas confundem-se dentro da rotina sem grandes inovações mantendo apenas o mesmo inerte cotidiano.Nenhum acontecimento é interessante a ponto de ocasionar uma insônia, um deslumbre ou até mesmo um choque.
Perdida dentro de repetições enfastiantes, invejo a loucura. Penso em Dom Quixote, que a patir de sua insanidade encontra objetivos, coloca vibrações numa vida já morta.Construindo um sonho no plano real,trazendo máscaras a tudo que não é de fato emocionante,transformando moinhos de vento em gigantes,inventando um amor...
Converte toda sua existência massificada a uma singularidade, mesmo que esquizofrênica. Alucinar me parece mais atraente, fugindo de um pragmatismo onde as dúvidas e incerteza não são permitidas, apenas o eterno rodeio sobre a verdade que garantem a norma de “sanidade”. Talvez seja mesmo a loucura provocada pelo excesso de lucidez...

Estou farta de ordenar minhas idéias, quero elas desregradas e psicodélicas.
Quero a paixão dos loucos, a emoção dos suicidas e a intensidade dos que sonham.
Um estar mais quixotesco.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Camuflagem


Lá estava ela, sentada naquele banco sob um poste que trazia pouca iluminação, com o olhar perdido dentro do horizonte, semi-conhecidos atravessam a rua sem notá-la. De fato ela estava alheia ao movimento, em seus dedos buscava um cigarro que pudesse dar-lhe companhia, não o achou,procurou o maço e sacou o isqueiro, ascendeu um cigarro e deu sua primeira tragada da noite, sentiu a fumaça subindo para seu cérebro, se espreguiçou pra trás sentiu um pequeno alivio dentro de sua angustia.

Tudo a enfastiava estava farta de todos, sentia um completo desencanto, a vida lhe parecia um número de um ilusionista, onde mentiras fantasiam-se de verdade e são tratadas com tal autoridade. Ela havia perdido seus conceitos de verdade, parecia perdida então percebeu que estava cansada dela mesma. Que faltava-lhe espaço, havia muita alma pra pouco corpo, faltava carne pra tanta essência. Lembrou-se então da bela princesa infeliz que aborrecida com sua existência, cravou um punhal santo em seu peito, ultrapassando carne e nervos que pretensiosamente pensavam ser de aço. Deu sua ultima tragada no cigarro, já estava tarde, levantou e desapareceu no escuro.



quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Nostalgia


Tem dias que sinto falta de mim mesma
Acordo, me procuro.
Será que continuo aqui?
Olho minhas mãos já não são as de outrora
Os porta-retratos negam-me respostas
Busco meus anseios
Então percebo que os sonhos antigos, os amores envelhecidos
São restos do que minha alma costumava ser
Quantas vezes morri em mim?Quantos lutos vesti?Quantas vezes renasci?
Sinto saudades do que fui e perdi
Sobra tanta ausência minha que me sinto vazia.

domingo, 2 de maio de 2010

Por que ás vezes me sinto como uma Ostra...


Ostra Feliz Não Faz Pérola

"Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores.
Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.
Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas, saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário... Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste... As ostras felizes riam dela e diziam: "Ela não sai da sua depressão..." Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.
O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava.
Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a sua rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-a para sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro da ostra. Ele tomou-a em suas mãos e deu uma gargalhada de felicidade; era uma pérola, uma linda pérola. Apensa a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. Ela ficou muito feliz..."
Ostra feliz não faz pérolas. Isso vale para as ostras,e vale para nós, seres humanos.
As pessoas que se imaginam felizes simplesmente se dedicam a gozar a vida. E fazem bem. Mas as pessoas que sofrem, elas têm de produzir pérolas para poder viver. Assim é a vida dos artistas, dos educadores, dos profetas. Sofrimento que faz pérola não precisa ser sofrimento físico. Raramente é sofrimento físico. Na maioria das vezes são dores da alma.

Rubem Alves


''(E o que mais dói) é viver num corpo que é um sepulcro que nos aprisiona (segundo Platão) do mesmo modo como a concha aprisiona a ostra.'' Frida Kahlo

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Moicano-Samurai

Bem aventurados aqueles que se alistam para a guerra
Vestem-se de armaduras e flechas
Enfrentam as mais temidas feras
Mergulham na doçura da solidão de um nobre samurai
Buscam a força dos mais valentes índios
Gritam hinos
Cegos,eles marcham
Confrontam os medos
Vencem e não comemoram
Perdem e se acostumam com a dor da derrota
Buscando sempre a vitoria.
Seguem
Ora samurais ,ora moicanos
Bravos guerreiros
Vivendo pra lutar
Lutando pra morrer
Morrendo pelas vidas...




Para o meu grande amor:André.
Que me ama mesmo quando não mereço e que me compreende mesmo quando nem eu mesma me entendo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Respirar

Às vezes a dor é como respirar: um ato tão intrínseco no existir, tão rotineiro e necessário, que apenas de vez em quando,paramos,observamos e percebemos que respiramos.
Raramente notamos o natural entrar e sair de ar dos pulmões e com mesma rara freqüência notamos que nós doemos constantemente.
Os momentos felizes vejo-os como verdadeiras apnéias, pequenas pausas da comunicação do ar atmosférico com as vias aéreas e quando muito prologandas encontram talvez a verdadeira forma da felicidade.