"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada." Clarice Lispector Clarice Lispector
sábado, 1 de agosto de 2009
O pato mais feio
Estou sozinho no meio da multidão
Olhos medem-me, rotulam-me...
Simplificam toda minha existência em números e sintomas
Sou um refugiado das respostas binárias
Tentam incessantemente formatar-me com seus moldes
Minha personalidade é múltiplas vezes violentada
Adoeço...
Não há espaço para mim em âmbito algum
Sou agora o pato mais feio!!!
Cubro meu ego de imperfeições e defeitos
Estou cego, não me resta nem uma sobra piedosa de auto-estima
Protagonizo como Tifon,o deus grego da Seca
Rejeitado até mesmo pela propria mãe
Sou dentre os patinhos ,certamente,o mais feio!!
Enfastiado fujo de minha redoma
Cortando por definitivo as cordas do títere social
Ás quais mantive-me acorrentado com uma dependência quase umbilical
Concebo o caos ,filho de toda minha prostituição comportamental
Com estímulos lentos ,lépidos tento resgatar-me
Talvez possa cicatrizar minhas feridas narcísicas
Livre dos reflexos almejados
Passo a me ver não tão horroroso
Poderia eu ser um cisne?
Na realidade sempre o fui
Errante apenas em minha mudez acomodada
Mas para enxergar-me tão grande,alvo e gracioso
Tão belo cisne
Tive de suportar os açoitos, abandonos e mágoas
Dignos do pato mais fei o.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Simples como uma esponja
Como uma esponja, absorvo toda ''água'' perto de mim.
Sendo assim, em certos momentos não tenho mais lugar algum para absorver tanta ‘’água’’.
Me sinto encharcada.
Acabo chorando para poder ter mais espaço e voltar ao meu papel, para ser preenchida novamente.
Sinto-me obrigada e gosto de depurar as pessoas, porém muitas vezes esquecem de me lavar, e acabo ficando suja.
Enfim...
Absorvo, absorvo, absorvo mesmo e também limpo, porém queria que me lavassem também, para eu me sentir um pouco lembrada e valorizada.
por André
domingo, 12 de julho de 2009
Simbiose
Como um morango que nasce da terra, cultiva-se o amor.
Para nós, nosso amor é como uma música composta entre acordes agressivos de uma guitarra, combinados com a delicada melodia de um piano.
Juntos recitamos uma poesia em que ora somos versos simétricos e decassílabos, outrora versos brancos e livres.
Mergulhamos na piscina de emoções um do outro, absorvendo, purificando, renovando, como uma esponja, os sentimentos metamorfoseiam-se em água.
O meu peito é como uma cama para sua mente cansada e seu abraço tansforma-se em um cobertor protegendo-me do frio.
Neste conto de fada real, abolimos os sapatinhos de cristais e os vestidos luxuosos, não se mostra necessário espada ou escudo. Mantivemos apenas a imagem da paixão entre um príncipe e uma princesa.
Muitas vezes nosso romance se parece com o Titanic, enfrentamos icebergs, achamos que vamos afundar, então percebemos que com sacrifícios e cumplicidade emergimos a todas dificuldades.
Toda história escrita à giz pode ser efêmera, vulnerável às chuvas e ventos, cabe aos personagens cuidar bem do seu amor, para imortaliza-lo nos livros.
Foi ótimo escrever com você, meu amor...
Somos cúmplices até nisso...
Amo você...
André
domingo, 28 de junho de 2009
Presa em mim
terça-feira, 26 de maio de 2009
Sonho
O corpo se mostra tão frágil diante da alma
Pensamentos se misturam com cheiros
Cores embaçam
Perdi o controle do tempo
Quebrei meu relógio
Esqueci de marcar as horas
Sigo apenas o coelho branco...
Mas não sigo estou sonhando
Penso.
Existo?
Estou perdida
Quero voltar, mas não encontro o caminho
Acordo em meu quarto como despertador tocando
Perdi as horas...
terça-feira, 28 de abril de 2009
Cartão Postal
Muitas vezes seduzidas pela anestesia temporária da bebida
Outras “apenas” vítimas da falta de moradia.
Sinaleiros abrindo e fechando
Carros importados ultrapassam o sinal vermelho
Uma sirene! Mais um acidente...
Salto altos e ternos caros caminham apressados lado a lado, sozinhos
Olhos desconfiados...
Concentrados em desviar seus passos do lixo,
de garrafas e bitucas de cigarro
Cegos para aqueles que pedem esmolas
ou estão com tanta sede que bebem a água suja
da fonte em baixo do Museu do MASP
Dois universos antagônicos freqüentam a mesma rua
Workaholics engravatados e mendigos esfarrapados
Restaurantes luxuosos e crianças famintas
O cheiro é um nuance de urina, poluição e frio...
Todos os bancos, toda tecnologia
os belos prédios camuflam com maestria
toda angústia das prostitutas da Rua Augusta;
e o desespero dos viciados...
Na Avenida Paulista
Muitas vezes o céu azul só pode ser visto do alto dos prédios...
Corra agora, não olhe para os lados
Você também está atrasado...
segunda-feira, 13 de abril de 2009
"Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."
Toda noite dormimos vitoriosos por mais um dia que sobrevivemos
Somos violentados com o imediatismo do cotidiano
Nossos sentimentos atrofiam com a falta de tempo para sentir
Concomitantemente morremos em nosso individualismo cego
Abandonamos nossa essência humana caracterizada pela inadmissão a solidão
E ainda insistimos nesse sistema viciado por indiferenças
Afirmando iludidos: ”Estamos vivos!”
Irmano-me a todos aqueles que doem
Todos que sofrem e choram
Percebo no envelhecer do outro minha futura face enrugada
Compreendo no pesar alheio parte da minha própria angustia
Minha empatia me faz querer abraçar o mundo
Mundo que tem fome
Mundo que treme de frio
Mundo adoecido entre cânceres e intolerâncias
sexta-feira, 3 de abril de 2009
"... e hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu."
Estou farta de minhas incessantes tentativas otimistas
Canso-me da minha própria intolerância com as chagas da vida
Intolerância essa nascida de meu perfecionismo
Fico histérica diante de meu espelho
Odiando-me sem conseguir deixar de mim o meu eu
Não quero frases pré-fabricadas de que tudo ficará bem
Não me garantas nenhuma solução
Não preciso de olhos para sentir
Não preciso de olhos para saber
Não preciso ver para pensar
Para mim meu controle é ridículo
Mas mais insuportável ainda se mostra meu descontrole