segunda-feira, 6 de junho de 2011

Comungando folhas




Eu varria as folhas caídas, como quem executa mecanicamente os movimentos para não processar mentalmente a própria melancolia,era uma desculpa pra me distrair,para fugir de mim ,eu me lembro que estava varrendo as folhas caídas....
O pé de Amora sempre esteve lá, eu o olhava todos os dias mas nunca o havia visto de fato.Parei e a vislumbrei,naquele momento eu a percebi,a Amoreira,de todas as manhãs geladas e madrugadas inacabadas,era singela porém grandiosa,me vi acolhida sob ela.esta já estava ali,muito tempo antes de mim.
Eu não mais varria as folhas caídas.
Admirava-a agora.
Suas folhas eram verde escuras, não haviam amoras maduras,nem mesmo flores,apenas folhas,e aquelas folhas me pareciam como frutos...
Foi quando senti aquela volúpia, foi rápido, não pensei no ato propriamente,apenas sabia o que eu estava desejando,foi uma vontade da alma que o corpo compreendeu e sucumbiu.
Não retirei a bela folha de sua haste, a mantive na amoreira, como quem comunga uma hóstia de maneira santificada eu a comi; delicadamente entreabri minha boca, passando-a por entre meus lábios, senti o gosto da seiva viva em minha língua, sabor nunca antes degustado.Como em um rito a mastiguei,não inteira apenas parte de sua metade,não queria depravar nada só desejava o enlace com existência tão casta e límpida.Experimentei a inocência que já havia partido em mim há muito tempo e a veracidade que não encontro nas pessoas.Me tornei parte de uma folha,presa em um galho de uma arvore ,não sei se velha ou muito antiga,unida através de minha boca,boca da folha,haste dela,haste minha,nervuras nossas...
Era um gosto verde, verde vivo; meio amargo com fundo de amora.

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