quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Abrindo gavetas



O Sol estava se pondo, a sina de mais um dia sem gosto, os sapatos apertados a comprimia por inteira, mente e corpo formavam um único cansaço. Acabara de chegar em sua casa,estava visivelmente exausta,porém não se contentaria apenas em deitar-se e dormir,precisava de algo,algum sentido para aquele fim de dia mecânico.Olhou ao seu redor,percebeu que há tempos não olhava para seu apartamento e o enxergava de fato.Tudo lhe alvitrava alheio,parecia não lembra-se de ter escolhi aqueles moveis nem suas especificas disposições,as cores não eram de seu agrado e não conseguia sentir seu cheiro nas coisas.Sentiu que precisava mudar,destruir tudo que ali estava para que tudo voltasse a ter um existência significativa.
Tirando os sapatos que a incomodavam, olhou para as cortinas resolveu começar por lá, rasga-las e deixar o fim do crepúsculo adentrar a sala de estar.As paredes brancas passaram a possuir um leve tom de rosa meio alaranjado.Sentiu essa nuance penetrando-a através de seus pés descalços.
Caminhou até seu quarto, mirou-se no espelho,ele ampliava a totalidade do cômodo não desejava mais tal distorção,queria conhecer a realidade de seu espaço.Viu sua cama ainda desarrumada devido a pressa da manhã,os lençóis estavam gelados,cansara deles também resolveu tira-los e joga-los na roupa suja.
Olhou para seu porta-jóias, ali conforme diz o nome estavam arquivadas suas preciosidades, não peças caras e luxuosas,mas recordações.Fitou-o por um instante e veio a indagação”Devo abrir?”,não se lembrava exatamente o que ali se escondia.
Fechou os olhos longamente, apertando-os, contou até três em voz baixa e abriu o pequeno baú,lá estavam suas memórias esquecidas.
Cartas cuidadosamente dobradas, pétalas de rosas secas, um anel que ganhara de sua vó,ingressos para um peça de teatro que não estava em cartaz e um papel de sonho de valsa.Sua retinas processavam o reconhecimento dos objetos,todos ali remetiam-lhe muita saudades.Fez-se mar,em forma de lagrimas,eram escassas gotas salgadas entretanto repletas de sentido.A revolução estava cancelada por hora.
A única coisa que lhe restava era tomar um banho para despedir-se da poeira que cobria as palmas de suas mãos...

sábado, 23 de outubro de 2010

O Cavaleiro da Triste Figura



Dias começam e terminam,as horas passam e se repetem,as cenas confundem-se dentro da rotina sem grandes inovações mantendo apenas o mesmo inerte cotidiano.Nenhum acontecimento é interessante a ponto de ocasionar uma insônia, um deslumbre ou até mesmo um choque.
Perdida dentro de repetições enfastiantes, invejo a loucura. Penso em Dom Quixote, que a patir de sua insanidade encontra objetivos, coloca vibrações numa vida já morta.Construindo um sonho no plano real,trazendo máscaras a tudo que não é de fato emocionante,transformando moinhos de vento em gigantes,inventando um amor...
Converte toda sua existência massificada a uma singularidade, mesmo que esquizofrênica. Alucinar me parece mais atraente, fugindo de um pragmatismo onde as dúvidas e incerteza não são permitidas, apenas o eterno rodeio sobre a verdade que garantem a norma de “sanidade”. Talvez seja mesmo a loucura provocada pelo excesso de lucidez...

Estou farta de ordenar minhas idéias, quero elas desregradas e psicodélicas.
Quero a paixão dos loucos, a emoção dos suicidas e a intensidade dos que sonham.
Um estar mais quixotesco.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Camuflagem


Lá estava ela, sentada naquele banco sob um poste que trazia pouca iluminação, com o olhar perdido dentro do horizonte, semi-conhecidos atravessam a rua sem notá-la. De fato ela estava alheia ao movimento, em seus dedos buscava um cigarro que pudesse dar-lhe companhia, não o achou,procurou o maço e sacou o isqueiro, ascendeu um cigarro e deu sua primeira tragada da noite, sentiu a fumaça subindo para seu cérebro, se espreguiçou pra trás sentiu um pequeno alivio dentro de sua angustia.

Tudo a enfastiava estava farta de todos, sentia um completo desencanto, a vida lhe parecia um número de um ilusionista, onde mentiras fantasiam-se de verdade e são tratadas com tal autoridade. Ela havia perdido seus conceitos de verdade, parecia perdida então percebeu que estava cansada dela mesma. Que faltava-lhe espaço, havia muita alma pra pouco corpo, faltava carne pra tanta essência. Lembrou-se então da bela princesa infeliz que aborrecida com sua existência, cravou um punhal santo em seu peito, ultrapassando carne e nervos que pretensiosamente pensavam ser de aço. Deu sua ultima tragada no cigarro, já estava tarde, levantou e desapareceu no escuro.