terça-feira, 28 de abril de 2009

Cartão Postal












Avenida Paulista, sete horas da manhã:
Podemos ver pessoas dormindo nas calçadas,
Muitas vezes seduzidas pela anestesia temporária da bebida
Outras “apenas” vítimas da falta de moradia.

Sinaleiros abrindo e fechando
Carros importados ultrapassam o sinal vermelho
Uma sirene! Mais um acidente...

Salto altos e ternos caros caminham apressados lado a lado, sozinhos
Olhos desconfiados...
Concentrados em desviar seus passos do lixo,
de garrafas e bitucas de cigarro
Cegos para aqueles que pedem esmolas
ou estão com tanta sede que bebem a água suja
da fonte em baixo do Museu do MASP

Dois universos antagônicos freqüentam a mesma rua
Workaholics engravatados e mendigos esfarrapados
Restaurantes luxuosos e crianças famintas
O cheiro é um nuance de urina, poluição e frio...

Todos os bancos, toda tecnologia
os belos prédios camuflam com maestria
toda angústia das prostitutas da Rua Augusta;
e o desespero dos viciados...

Na Avenida Paulista
Muitas vezes o céu azul só pode ser visto do alto dos prédios...
Corra agora, não olhe para os lados
Você também está atrasado...


segunda-feira, 13 de abril de 2009

"Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."













Toda noite dormimos vitoriosos por mais um dia que sobrevivemos
Somos violentados com o imediatismo do cotidiano
Nossos sentimentos atrofiam com a falta de tempo para sentir
Concomitantemente morremos em nosso individualismo cego
Abandonamos nossa essência humana caracterizada pela inadmissão a solidão
E ainda insistimos nesse sistema viciado por indiferenças
Afirmando iludidos: ”Estamos vivos!”

Irmano-me a todos aqueles que doem
Todos que sofrem e choram
Percebo no envelhecer do outro minha futura face enrugada
Compreendo no pesar alheio parte da minha própria angustia

Minha empatia me faz querer abraçar o mundo
Mundo que tem fome
Mundo que treme de frio
Mundo adoecido entre cânceres e intolerâncias

sexta-feira, 3 de abril de 2009

"... e hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu."


Estou farta de minhas incessantes tentativas otimistas
Canso-me da minha própria intolerância com as chagas da vida

Intolerância essa nascida de meu perfecionismo
Fico histérica diante de meu espelho
Odiando-me sem conseguir deixar de mim o meu eu
Não quero frases pré-fabricadas de que tudo ficará bem

Não me garantas nenhuma solução

Não preciso de olhos para sentir

Não preciso de olhos para saber
Não preciso ver para pensar

Para mim meu controle é ridículo
Mas mais insuportável ainda se mostra meu descontrole