sábado, 20 de agosto de 2011

Procurando no vazio


"Não posso crer num Deus que queira ser louvado o tempo todo."
Friedrich Nietzsche

Eu andava pelas ruas, fazendo o mesmo caminho que diariamente faço, desviando de um ou outro obstáculo, mecanicamente ultrapassando os desníveis das calçadas e parando em cada esquina, esperando os carros passarem. Era final de mais um dia, outra vez uma semana, dentro da rotina marcante na sucessão dos dias,Estava cansada,tinha a mente e o corpo esgotados.Sentia uma leve melancolia,que alguns associariam à solidão.

Pensei no que iria fazer ao chegar a minha casa. Não senti vontade de fazer coisa alguma. Percebi que olhava alheia para tudo ao meu redor, o trajeto não me atraia, não conseguia sentir nenhuma vivacidade ao observar as casas e vidas alheias.

Foi então que notei o vazio em mim, uma ausência plena que ainda não entendo.

Pensei em mecanismos de preencher esse buraco de minha alma, pensei em correr, gritar e chorar. Nada me estimulou.

Elenquei coisas que pudessem me aliviar uma barra de chocolate meio amargo, um trago, uma xícara de café ou uma dose de conhaque; porém nada elegi.

Vislumbrei por alguém, minha mãe, meu pai, um amigo, um inimigo, simplesmente alguém. Um toque, um abraço, um beijo, nada era aquela minha parte que não tinha.

Desse modo cogitei que talvez o que me faltava fosse aquela religiosidade, aquela devoção solene, que exige rituais e premissas, aquele amor que parece confortar, aquela fé que acolhe e remove as angustias, aquele doce purificar, que os outros costumam chamar de Deus e eu de vazio.

Nesse meu vácuo encontrei talvez uma resposta, contudo uma resposta em vão, por que há muito já não acreditava. Exaltando toda a razão me sentia desprovida de recursos parar ficar repleta. Sentia os poros abertos e indefesos, eu afrontava a vida sem nenhuma armadura, como um molusco sem concha.

Evoquei minha fidúcia antiga, e chamei meu anjo da guarda, e nada aconteceu.

Voltei pra casa exasperada, talvez fosse pelo atrevimento de não acreditar que eu não receberia. E quanto ao filho pródigo?

Seria eu a ovelha desgarrada?

Enquanto me sinto a ovelha negra, e aspiro por esta.

No entanto o vazio me consumia. Procuro meu guardador de rebanhos.




Um comentário:

Anônimo disse...

"Batei e se abrirá, buscai e achareis, pedi e Ele concederá"