quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Camuflagem


Lá estava ela, sentada naquele banco sob um poste que trazia pouca iluminação, com o olhar perdido dentro do horizonte, semi-conhecidos atravessam a rua sem notá-la. De fato ela estava alheia ao movimento, em seus dedos buscava um cigarro que pudesse dar-lhe companhia, não o achou,procurou o maço e sacou o isqueiro, ascendeu um cigarro e deu sua primeira tragada da noite, sentiu a fumaça subindo para seu cérebro, se espreguiçou pra trás sentiu um pequeno alivio dentro de sua angustia.

Tudo a enfastiava estava farta de todos, sentia um completo desencanto, a vida lhe parecia um número de um ilusionista, onde mentiras fantasiam-se de verdade e são tratadas com tal autoridade. Ela havia perdido seus conceitos de verdade, parecia perdida então percebeu que estava cansada dela mesma. Que faltava-lhe espaço, havia muita alma pra pouco corpo, faltava carne pra tanta essência. Lembrou-se então da bela princesa infeliz que aborrecida com sua existência, cravou um punhal santo em seu peito, ultrapassando carne e nervos que pretensiosamente pensavam ser de aço. Deu sua ultima tragada no cigarro, já estava tarde, levantou e desapareceu no escuro.



3 comentários:

Phantom of the opera disse...

É vc ja mando pro meu email...

Larissa Vicentini disse...

Bom, este texto, mesmo sendo curto, me prendeu. Fez com que eu criasse empatia pela personagem e conseguiu me fazer viajar...

Esses dias baixei alguns e-books e dei algumas folheadas. Boa parte me decepcionou porque não conseguiam fazer isso comigo, trazer essa atmosfera.

Então, se o texto é seu, PARABÉNS!
Há essa dúvida em mim porque fico chocada com quem consegue transmitir - como já lhe disse - tanto conteúdo de uma forma tão boa, elaborada.

E, por vezes eu me senti assim: muita alma pra pouco corpo. :)

Mariana R. Thomé disse...

"Quando

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente."