segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Lacuna


Hoje doeu.
Doeu mais do que normalmente dói diariamente, doeu como uma ferida crônica que nunca cicatriza,doeu como uma perda recente e uma saudade eterna.
Talvez tenha doído por medo, ou pela dúvida do que fazer. A palavra mais exata seria insegurança.
Pensei em quando era menina e você me carregava no colo ao mínimo sinal de perigo, a partir de qualquer gesto de desconforto meu assim você me amparava.
Esperei aquele copo de leite com chocolate antes de dormir.
De vezes em quando finjo que você só está viajando, que se esqueceu de voltar, que está se divertindo muito, dando tantas risadas em algum lugar por ai, que quase consigo escutar. Deve haver muito sorvete.
Vendo suas xícaras e chaleira parece que vejo você fazendo o café da tarde com bolinhos de chuva. Manter suas coisas perto de mim me faz notar sua presença, sua presença que se imortaliza em mim.
Recordo-me das lições de casa, de que quando você me ensinou a ler.
Como essas memórias me trazem um cheiro de infância que não consigo mais encontrar em nenhum lugar, em nenhuma das imensidões que contem o mundo.
Talvez seja por ser uma imensidade só minha, um cheiro que só eu senti, uma sensação que apenas eu tive o prazer de provar.
Olho para minhas mãos. Como me lembram as suas!
Como me inspiro no seu gênio, e tenho o legado de sua ferocidade.
Sim, é verdade você não era nada fácil. Contudo nunca me interessei por facilidades, acho que deve ser essa a raiz de meu apurado gosto por complicações.
Adorava verdadeiramente ouvir aquelas historias, historia não de uma vida, mas de várias que passaram e marcaram sua alma. Pessoas que agora vivem apenas nas gavetas de meus pensamentos e curiosamente chegaram até lá por meio de seus relatos.
Sempre me lembro. Nostalgia a minha!
Volta e meia, me sobe a boca e brota em frase aquela fala:
-“Como diria minha vó...”.
Mas nada volta, e a cadeira de balanço continua vazia.....

7 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

E como era bom ouvir aquelas historias enquanto eu esperava a neta dela se trocar...
Como era bom aquele abraço aconchegante e saudoso...
Todo aquele gênio que de repente se misturam com aquele humor de criança...
Sorvetes...
Metade de um Bauru...
Nhoque...
Risadas... e q risada tão gostosa...

Só posso lhe dizer uma coisa...
Obrigado por abrir a porta de sua casa e me receber como um de seus netos...
Foi recíproco...
Saudades eternas...

Larissa Vicentini disse...

Você é fantástica, Aline.
Genial e arrepiante a leitura desse texto... Acho que é porque é SEU GÊNIO, SUAS EMOÇÕES muito bem expressadas.

Não sei nem o que dizer.
Mas com certeza ainda há vida nessa nostalgia e suas inspirações!
BJAUM!

Unknown disse...

Nossa! Lendo me tocou profundamente...é lindo! amei XD

Eu que nem a conheci tive vontade e chorar, senti a sua nostalgia de perto!

Mariana R. Thomé disse...

Esse me doeu!

Anônimo disse...

Um brinde à morte! Tornando-nos tão frágeis, vulneráveis... e um brinde à lembrança de todos aqueles que já se foram e nos deixaram profundas e doloridas marcas.